O retrato do trabalho feminino em Portugal

Caminhamos lentamente em direção à igualdade entre homens e mulheres. Saiba mais sobre o trabalho feminino em Portugal e o caminho a percorrer.

TRABALHO FEMININO EM PORTUGAL: UM PROBLEMA DE GESTÃO DE PAPÉIS DE VIDA?

O papel das mulheres no mundo laboral tem sofrido enormes alterações nas últimas décadas. Se anteriormente estavam confinadas à gestão familiar e doméstica, agora abraçam, também, projetos de carreira. O resultado? O trabalho feminino é a dobrar. Para além disso, quase nunca é pago em condições de igualdade de género.

A verdade é que em 2021 a situação das mulheres que trabalham está longe de ser perfeita.

Na verdade, um estudo realizado há um ano, levado a cabo por economistas do Banco de Portugal, concluiu que não se verifica que a discriminação de género na formação dos salários se tenha atenuado em Portugal nos últimos trinta anos.

Mais recentemente, uma análise do Gabinete de Estudos Sociais da CGTP-IN, baseada em dados do INE referentes ao quarto trimestre de 2020, veio a concluir que o salário médio das mulheres trabalhadoras em Portugal, neste momento, é 14% inferior comparativamente com o dos homens, considerando que exercem profissões iguais.

No entanto, a desigualdade atinge valores mais elevados entre salários de quadros superiores, atingindo uma diferença percentual de 26,1%.

Diferença entre níveis de escolaridade entre mulheres e homens não se traduz em maior reconhecimento profissional

Outro dado a ter em conta, quando se trata o retrato do trabalho feminino em Portugal, é que é normal as mulheres terem igual ou superior nível de escolaridade relativamente aos seus companheiros homens.

No entanto, isso na realidade do dia a dia do mundo laboral não tem qualquer expressão. Não existe um maior reconhecimento, nem são dadas mais oportunidades de progressão a mulheres mais instruídas e educadas do que os homens na mesma organização.

Sintomas de cansaço face à vida profissional, e a culpa é da distribuição das tarefas domésticas

Será que tudo começa em casa? Podemos mesmo esperar que as mulheres sejam igualmente remuneradas pelas empresas se, no lar, a divisão de tarefas já não é equitativa?

Um dado que salta à vista neste estudo é o facto de uma grande percentagem de trabalhadoras mencionar que sentem um cansaço crónico.

Ora, isto pode abrir a porta à instalação de diversos problemas de saúde. O primeiro indício disso mesmo surge no facto de uma em dez trabalhadoras tomar medicação para atenuar os efeitos do cansaço.

As mulheres continuam a liderar o trabalho doméstico, desempenhando a maior parte das tarefas em comparação com os homens. Assim, a consequência direta disso é a falta de tempo para descansar, cuidar de si próprias e até para direcionarem as suas energias para a gestão da sua carreira.

Salto geracional gigante a nível de educação foi um progresso, mas demorou uma geração inteira

É inegável que nos últimos trinta anos houve salto entre gerações, ao nível da formação e da educação das mulheres no nosso país.

Atualmente o grau de instrução das mulheres é muito superior ao das suas mães. Apesar disso, como já vimos, esta mudança nos níveis de educação das mulheres não foi acompanhada de uma mudança de atitudes em relação à gestão familiar e da casa, com consequências no reconhecimento remuneratório do trabalho feminino.

Uma questão de tempo

Conclui-se uma vez mais que é urgente resolver, de forma definitiva, a disparidade de investimento de tempo no trabalho doméstico entre homem e mulher.

Uma vez dissolvida esta discrepância, estarão criadas as condições para que as mulheres também sejam tratadas com igualdade no mundo empresarial. Assim, espera-se que encarem a sua vida pessoal e profissional de uma forma mais pacífica e prazerosa.

No entanto, provavelmente, teremos que esperar cerca de cinco gerações para que tal venha realmente a acontecer, a julgar por estes dados.

Isto porque na génese do problema estão questões relacionadas com a educação, a forma como o tema é abordado desde que se é criança, em casa ou na escola e nos conteúdos que nos são transmitidos pelos meios de comunicação.

As consequências

Como consequência destes sinais de insatisfação das mulheres com a sua vida profissional, contam-se, por exemplo, um menor desejo de ter filhos, a quebra de produtividade, o aumento de crises relacionais, mais divórcios, menos saúde, e menor qualidade de vida.

Pode, então, dizer-se que a igualdade de género afeta todos, inclusive os homens, que aparentemente são beneficiados, a curto prazo, por terem menos encargos e serem melhor pagos.

No entanto, também serão vítimas do decréscimo da taxa de natalidade, do envelhecimento da população e da desintegração das estruturas familiares.

Há quem afirme que uma forma de resolver o problema da desigualdade no trabalho doméstico seria entregá-lo a profissionais, pagando a quem o faz como atividade profissional. Mas, uma vez mais, a gestão desses profissionais em casa e a atribuição das tarefas ainda cabe às mulheres.

Por outro lado, são elas as principais cuidadoras não apenas dos filhos, mas de outros familiares em situação de fragilidade ou doença, tarefas dificilmente atribuíveis a terceiros.

Por tudo isto, se torna evidente que a desigualdade salarial é apenas a ponta do icebergue de um problema social muito mais profundo.

e-konomista.pt

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